No passado, sem recursos como a internet, por exemplo, os ufólogos e seus grupos tinham que encontrar alternativas para divulgar suas pesquisas e trocar informações com outros pesquisadores. As opções mais utilizadas eram a troca de correspondência (cartas) escritas a mão ou produzidas em máquinas de escrever, e algumas vezes a troca de telefonemas. Para facilitar a troca de informações, mantendo, dentro do possível, uma padronização e organização na distribuição das informações muitos grupos e pesquisadores desenvolveram um documento prático e acessível chamado "Boletim Ufológico". Esses boletins eram uma espécie de mini periódico ou jornal sendo editado e produzido pelos ufólogos com certa periodicidade (mensal, bimestral, trimestral, quadrimestral e semestral). Basicamente os boletins eram compilações de casos estudados ou noticias relacionadas a temática ufológica. Em quase todos os países onde haviam estudos sobre o tema, eram produzidos algum tipo de boletim.
Abaixo podemos apresentar alguns boletins importantes ou famosos separando os mesmos pelo seu respectivo continente:
ÁFRICA

O continente africano não apresenta uma grande relevância na casuística ufológica mundial, entretanto tem sua importância com muitos casos interessantes e alguns famosos. Acredito que essa baixa representatividade na casuística mundial se deve a questões geográficas, demográficas, culturais e até religiosas. O casos ocorriam porém não chegavam ao conhecimento dos pesquisadores. Um dos expoentes da investigação ufológica no continente foi a pesquisadora Cynthia Hind. Ela investigou casos importantes sendo o clássico caso da escola Ariel, ocorrido em 1994, um deles. Além disso ela publicou um boletim chamado UFO AFRINEWS de 1988 até sua morte em 2000. Além da Cynthia haviam outras pessoas interessadas no assunto no continente. Na cidade de Durban, na África do Sul, um grupo chamado "Contact S.A" produzia um boletim ufológico chamado SKYWATCH. O nome original do grupo era "International Sky Scouts S.A", e era uma "filial" de um grupo de mesmo nome sediado no Japão, porém problemas internos motivaram a desvinculação e a criação de um novo grupo - o "Contact S.A".
AMÉRICAS

O continente americano tem grande importância na história da casuística mundial. Podemos dizer que os Estados Unidos foi o "berço" do estudo ufológico, sendo o país onde tudo começou a partir das divulgações na imprensa dos avistamentos de Kenneth Arnold e seguido da divulgação do caso Roswell. Como ocorre em quase tudo no território norte americano as coisas ganham gigantescas proporções rapidamente. O alvoroço causado pelos chamados "discos voadores" contribuiu para criação de dezenas de grupos de estudos ufológicos. A grande maioria não teve uma duração muito longa, entretanto grupos como "A.P.R.O" (Aerial Phenomena Research Organization), fundado em 1952 e "NICAP" (National Investigations Committee On Aerial Phenomena) fundada em 1956, tiveram longo tempo de vida. A "A.p.r.o." foi fundada pelo casal Jim e Coral Lorenzen e contava com um corpo de pesquisadores brilhantes, sendo um deles James E. McDonald. Por sua vez a NICAP teve como um de seus fundadores Donald E. Keyhoe e teve entre seus membros figuras importantes como Richard H. Hall. Certa vez J.A.Hynek declarou que considerava as duas organizações como as mais sérias dos Estados Unidos. Tanto a Nicap como a A.p.r.o produziram e editaram seus boletins de pesquisa. O boletim da Nicap era chamado de UFO investigator.
Juntamente com Brasil, e Argentina, o Chile é um grande expoente na pesquisa ufológica com uma rica casuística. Um dos principais grupos de pesquisa do país, o UFO Chile, fundado no final da década de 50, e publicou seu primeiro boletim no ano de 1967.

A Argentina é outro pais que conta com uma casuística riquíssima. Vários grupos de pesquisas foram criados. Um dos principais grupos foi a "Comisión Observadora de Objetos Voladores No Identificados - CODOVNI, fundada em 1956. Publicavam um boletim anual chamado CODOVNI.

Por sua imensa e rica casuística o Brasil é o principal protagonista na América Latina. Com os primeiros grupos surgidos na década de 50 a pesquisa ufológica brasileira teve um grande desenvolvimento na "era de ouro da ufologia". O trabalho árduo e dedicado de muitos pesquisadores ajudou a desenhar e modelar o que se resume a ufologia brasileira. Um destes primeiros grupos foi o grupo mineiro CICOANI - "Centro de Investigação Civil dos Objetos Aéreos Não Identificados", fundado em 1954 pelo grande pesquisador Húlvio Brant Aleixo. Outro grupo de extrema importância no cenário nacional foi a SBEDV - "Sociedade Brasileira de Estudos dos Discos Voadores, fundada em 1957, e sendo um de seus fundadores o Dr. Walter Bühler. A SBEDV publicou um importante boletim no passado. Tanto o CICOANI como a SBEDV eram entidades civis, entretanto o Brasil também já contou, no passado, com uma estrutura organizacional, criada pela Força Aérea Brasileira, chamada SIOANI - "Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados". Essa entidade também produziu boletins. Além destes grupos existiram muitos outros, em quase todas as regiões do país, que também produziram diversos boletins de divulgação.
ÁSIA
O continente asiático conta com uma rica casuística, com muitos contatos, avistamentos e, semelhante ao Brasil e África, a casuística se mistura com lendas, mitos e folclores locais. Japão , China, Sri Lanka e Malásia são alguns dos países que tem suas pesquisas, seus próprios grupos, onde alguns deles geraram boletins sobre seus estudos. O protagonismo japonês nas pesquisas ocorreu ao mesmo tempo que o resto do mundo ocidental. Em 1955 o pesquisador Arai Kinichi fundou o "Japan Flying Saucer Research Association (JFSA). Em 1956 publicou seu boletim chamado "Uchūsen" ("Nave Espacial" na tradução literal). A JFSA não existe mais mas parte de seu acervo pode ser localizado em Fukushima no
Museu UFO Fureaikan. Sediado juntamente ao museu há um grupo de pesquisa chamado "
International UFO Lab". China, Sri Lanka e Malásia seguiram os passos bem mais tardiamente que o Japão. No final da década de 70 a "China UFO Research Association" (CURA) (tinha outro nome no início), estreava suas atividades dentro das dependências da Universidade de Wuhan, mais precisamente em 20 de setembro de 1979. No início de 1981 lançava seu boletim chamado "Journal of UFO Research" na forma de uma revista. Abaixo as capas das publicações japonesa e Chinesa.

No início da década de 80, grupos e pesquisadores da Malásia e Sri Lanka, iniciaram seus estudos. O pesquisador malaio Ahmad Jamaludin lançou o seu "Malaysian UFO Bulletin em 1980. Outro pesquisador veterano, do Sri Lanka, Ananda L. Sirisena, e que atualmente tem o seu grupo o "
Lanka UFO/UAP Contacts Knowledge (LUCK)" também publicou e divulgou as suas pesquisas pelo "Malaysian U.F.O Bulletin na decada de 80.
EUROPA
O continente europeu tem papel de destaque na ufologia mundial. Diversos países europeus apresentam uma rica casuística contando com muitos casos clássicos. Inglaterra, França, Itália, Suécia, Bélgica e Alemanha são alguns destes países.
O grupo germânico CENAP (Centralen Erforschungs-Netz außergewöhnlicher Himmels-Phänomene ou Rede Central de Pesquisa de Fenômenos Celestiais Extraordinários) fundado em 1973 publicou seu boletim chamado "Cenap - Report" no inicio de 1976.
Dois grupos tradicionais belgas , o Bufoi ( Belgium UFO Information), fundado em 1963 e o Sobeps (Société Belge d’Étude des Phénomènes Spatiaux) fundado em 1971 tiveram seus boletins publicados nas décadas de 60 e 70. O boletim da Sobeps era chamado Inforespace.

Tido por muitos, o país na Europa onde é praticada uma pesquisa de aspecto mais cético (ou "protecionista ?) a Espanha conta com importantes grupos e boletins ufológicos. Um dos primeiros, o CEI - Centro de Estudios Interplanetarios, fundado em 1958 por Antônio Ribera lançou seu famoso periódico STENDEK no inicio da década de 70.
Praticamente um "fanzine" sobre temas estranhos, dentre eles ufologia, o Boletim Clypeus surgiu no inicio dos anos 60 na Itália. Ele serviu de embrião para criação de uma associação nacional ufológica no pais, a CUN - CENTRO UNICO NAZIONALE, agregando grupos, ufólogos e pesquisadores. Em 1967 lançaram seu boletim chamado UFO Notiziario.
Provavelmente por influência do grande acontecimento conhecido como “Onda de 1954”, a França se notabilizou, na ufologia mundial, por divulgar importantes grupos e pesquisadores do fenômeno. Entretanto, considerado o primeiro boletim sobre o assunto publicado no país, o Ouranos foi fundado por Marc Thirouin em 1950. Na sua esteira, veio o famoso Lumières dans la Nuit (LDLN), fundado em 1958 por Raymond Veillith. Posteriormente, na década de 60, foi criado o G.E.P.A -Groupement d'Étude de Phénomènes Aériens. Em 1964 o grupo criou um dos mais importantes e respeitados boletins ufológicos, o Phénomènes Spatiaux.
Considerada a revista ufológica mais influente no mundo entre as décadas de 60 e 80 a inglesa Flying Saucer Review (FSR) teve importante papel na divulgação da casuística ufológica da América Latina para o resto do mundo. A British UFO Research Association - BUFORA, foi a maior organização ufológica do Reino Unido. Teve importante papel de interlocutor entre imprensa e governo em torno de discussões com temática ufológica. Em 1959 publicou seu primeiro boletim.
A ufologia escandinava tem como importantes representantes países como a Suécia e a Dinamarca. Os suecos, por meio de publicações como Galax, Tellus, Oriun e Tid Och Rum , desempenharam um papel pioneiro na documentação sistemática dos avistamentos e no estudo do fenômeno. Essa tradição resultou na criação do IFU (Interessföreningen för UFO-forskning) em 1967 e, posteriormente, do UFO-Sverige, organização que permanece ativa até hoje em estreita ligação com o AFU (Archives for the Unexplained), o maior arquivo ufológico do mundo.
Na Dinamarca, a ufologia se estruturou com a fundação, em 1957, da SUFOI (Scandinavian UFO Information), responsável por coordenar investigações no país e publicar, a partir de 1958, o boletim UFONyt, uma das revistas ufológicas mais longevas da Europa, ainda em circulação após mais de seis décadas.
Assim, suecos e dinamarqueses construíram uma tradição investigativa sólida, que fez da Escandinávia uma referência internacional na documentação rigorosa e na preservação histórica dos fenômenos aéreos anômalos.
OCEANIA
O estudo ufológico na Oceania pode ser definido como uma investigação descentralizada, com maior dinamismo na Austrália e Nova Zelândia, onde surgiram grupos ativos desde os anos 1950, como Australian Flying Saucer Research Society (AFSRS), Victorian UFO Research Society (VUFORS) e a Civilian Saucer Investigation (CSI) , responsáveis pela circulação dos primeiros boletins regionais; sua produção combina a documentação de casos clássicos de repercussão mundial, como o Padre Gill em Papua-Nova Guiné (1959), o incidente Westall na Austrália (1966) e os avistamentos filmados em Kaikoura, Nova Zelândia (1978), com a valorização de narrativas indígenas sobre “espíritos celestes” e “luzes no céu”, reinterpretadas no século XX como manifestações ufológicas, o que dá à ufologia da região um caráter fragmentado, porém singular, na medida em que mescla registro documental sólido e tradições culturais locais, projetando a Oceania como um polo peculiar e relevante para a literatura ufológica internacional.

Primeiros Boletins Australianos: o Australian Saucer Record (AFSRS) e o Australian Ufo Bulletin (VUFORS).
O primeiro boletim da Oceania foi o neozelandês Civilian Saucer Investigation da CSI.
Entendo que os boletins ufológicos foram fundamentais para preservar relatos, conectar pesquisadores e dar legitimidade ao estudo dos OVNIs em uma época sem internet. Mais do que simples informativos, tornaram-se arquivos vivos da memória coletiva da ufologia. Seu legado é a base histórica que ainda inspira e orienta a pesquisa atual.