terça-feira, 15 de setembro de 2009

Crise na Nasa pode cancelar voos espaciais tripulados.

Segundo analistas, os voos do foguete Ares I, um dos dois necessários para levar cargas e astronautas para a Lua, precisariam ser cancelados

Um comitê de engenheiros aeroespaciais e cientistas entregou ao presidente americano Barack Obama uma avaliação pessimista do programa espacial de voo tripulado da Nasa. O relatório do painel elencou as decisões extremas que Obama enfrentará, que podem incluir o cancelamento de um novo sistema de foguetes lunares e de todos os outros projetos exceto a exploração da órbita baixa onde se encontra a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

"No fim das contas, eles concluíram que não há dinheiro suficiente no atual orçamento para fazer qualquer coisa útil no voo espacial tripulado", diz Marcia Smith, presidente da Space and Technology Policy Group, consultoria com sede em Arlington, Virgínia, e ex-diretora do Quadro de Estudos Espaciais do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA.

Em maio, Obama ordenou ao comitê uma revisão da atual política espacial, desenvolvida pelo ex-presidente George W. Bush, a partir de sua "visão" de montar uma base lunar como preparação para o envio de pessoas a Marte. O comitê tinha a tarefa de avaliar novos cenários - inclusive o uso da ISS depois de seu fim programado para 2016 - seguindo rígidas diretrizes orçamentárias. Liderado pelo ex-executivo aeroespacial Norman Augustine, o comitê de dez membros ainda não divulgou seu relatório, mas debates públicos no verão americano deixaram clara a opinião de alguns.

Considerando as restrições orçamentárias, as opções não são as melhores. No requerimento orçamentário de Obama para 2010, o programa de exploração da Nasa, conhecido como Constellation, receberia cerca de US$ 6 bilhões por ano - cerca de US$ 1 bilhão a menos do que o requisitado por Bush no orçamento de 2009 e vários bilhões a menos do que o estabelecido em orçamentos anteriores.

"O orçamento de Bush colocou pressão sobre o sistema, mas o orçamento de Obama, se deixado como está, vai acabar com ele", afirma Scott Pace, diretor do Instituto de Política Espacial da Universidade George Washington, em Washington, D.C. Uma análise do comitê revelou que, caso não haja mudanças no plano e orçamento atuais, os astronautas sequer sairão da órbita baixa da Terra até 2028.

Portanto, o grupo procurou alternativas para o presidente, reduzindo suas cerca de três mil escolhas possíveis para apenas algumas. Em diversos cenários, o foguete Ares I, um dos dois necessários para levar cargas e astronautas para a Lua, seria cancelado.

Ao invés disso, recursos seriam alocados para empresas espaciais comerciais, como a Space Exploration Technologies, de Hawthorne, Califórnia, e a Orbital Sciences, de Dulles, Virgínia, que já estão tentando construir foguetes para levar carregamento até a ISS. Segundo Smith, o comitê também parece inclinado a apoiar foguetes comerciais que possam levar pessoas até o espaço.

Para Michael Griffin, ex-gestor da Nasa, os riscos não se limitam a tornar o foguete tripulado comercial uma realidade, mas também em ceder a capacidade da viagem espacial - tradicionalmente do governo americano - ao setor privado.

"Não sou fã de esforços que confiam em capacidades de terceiros antes delas existirem de verdade", diz Griffin, hoje professor de engenharia aeroespacial da Universidade do Alabama, em Huntsville.

Ele afirma que também ficaria desapontado se o Ares I fosse cancelado, não só pelos US$ 6 bilhões já gastos no foguete e na cápsula tripulada Orion, mas porque ainda acredita que o Ares I é a forma mais barata de atravessar a órbita baixa quando comparada a seu companheiro de lançamento pesado Ares V.

O sistema, diz ele, "tem a única falha de custar mais do que o presidente Obama está disposto a oferecer no orçamento". O comitê descobriu que uma ampla exploração humana da Lua e uma viagem direta a Marte são inviáveis. Com uma pequena manobra orçamentária e com a alocação do dinheiro do Ares I para o desenvolvimento de um foguete de carga pesada, o comitê determinou que haveria ainda uma opção de 'espaço profundo'.

Tal possibilidade pode incluir visita a asteróides, sobrevoos na Lua e em planetas e viagens a pontos de Langrange, fontes gravitacionais no sistema Terra-Sol onde alguns telescópios estão situados.

O comitê encontrou diversas formas de estender as operações da ISS até 2020 de forma a cumprir acordos internacionais. O que não está claro é se, após gastar US$ 2,5 bilhões anuais no funcionamento da ISS nos próximos anos, haveria dinheiro para alguma outra coisa. "Não gosto de fingir que temos objetivos de longo alcance e de superação quando não estamos dispostos a reservar dinheiro para alcançá-los", diz Griffin.

As diretrizes orçamentárias de Obama para 2010 incluíam a condição de que recursos adicionais para o programa pudessem ser requeridos enquanto o relatório do comitê de Augustine estivesse pendente. O Congresso, que trabalha para determinar esses custos no outono americano, marcou para meados de setembro as audiências sobre o relatório. Portanto, apesar do comitê finalizar em breve seus trabalhos, ainda permanecem algumas decisões difíceis - reivindicar mais dinheiro ou aceitar um programa mais limitado.

"O trabalho mais difícil vai estar na mesa do presidente", diz Smith.

Fonte: Portal Terra

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