terça-feira, 8 de setembro de 2009

Por trás da meta de voltar à Lua, muita conversa e pouco dinheiro.

Quarenta anos após colocar o homem pela primeira vez na Lua, a NASA (National Aeronautics and Space Administration, a agência espacial americana) tem poucas chances de repetir esse feito 50 anos depois da Apollo 11.
Talvez não consiga fazer o mesmo nem no 60º aniversário da alunissagem da nave.

Cinco anos após receber a meta de retornar à Lua até 2020, a agência está chegando a uma desconfortável conclusão - a de que o programa americano de voos espaciais tripulados pode simplesmente não realizar nada novo por um bom tempo.

"A menos que o presidente esteja disposto a se colocar e dar um ousado passo, como fez o presidente Kennedy, o programa de voos espaciais tripulados irá para o buraco", disse o senador Bill Nelson, democrata da Flórida.

O plano atual da NASA é aposentar os ônibus espaciais até setembro do próximo ano, após completar a construção da Estação Espacial Internacional, para então depender dos foguetes russos até que a nova geração de foguetes, Ares I, esteja pronta - em março de 2015. Depois disso, a agência iria aposentar e descartar a estação espacial em 2016, e usar o dinheiro liberado no desenvolvimento do foguete Ares V, de um módulo lunar e da tecnologia para construção de um assentamento lunar.

O plano surgiu da "visão de exploração do espaço" que o presidente George W. Bush anunciou em janeiro de 2004, um ano após a perda do ônibus espacial Columbia e seus sete astronautas. Porém, em sua requisição de orçamento, Bush nunca pediu as quantias exigidas pela visão lunar, e o Congresso, apesar de expressões bipartidárias de apoio ao programa, nunca concedeu o dinheiro. O pedido de orçamento do presidente Barack Obama para o próximo ano fiscal, que começa em outubro, delineou ainda mais cortes em 2011 e adiante.

Nos últimos dois meses, um painel reunido pela administração Obama atingiu dois pontos de amplo consenso. Um foi que fazia pouco sentido passar dez anos construindo a estação espacial, para então jogá-la no lixo após apenas cinco anos de operação. O segundo foi que, nos níveis atuais de financiamento, cerca de US$ 100 bilhões para voos espaciais tripulados por humanos na década de 2010 a 2020, o atual programa era, nas palavras do painel, "não executável".

Na verdade, a NASA pode não chegar à superfície lunar nem mesmo em 2030, segundo a conclusão do painel. Estender a vida da estação espacial desviou ainda mais verba dos esforços lunares. Cumprir a meta de retornar à Lua até 2020 pode exigir US$ 50 bilhões adicionais.

Nenhum plano alternativo cabe no orçamento, disse o painel. "Nossa visão é que será difícil, com o orçamento atual, fazer qualquer coisa que seja realmente inspiradora na área dos voos espaciais", disse Norman Augustine, ex-diretor executivo da Lockheed Martin e presidente do painel, durante sua última reunião pública, em 12 de agosto.

Agora, quase tudo a respeito dos esforços da NASA em voos espaciais tripulados está novamente em questão - os foguetes, a programação, o destino -, e outra renovação pode surgir.

As mudanças poderiam ser radicais: condenar o foguete Ares I, onde a NASA gastou US$ 3 bilhões e quatro anos de desenvolvimento, e entregar parte do negócio de transporte espacial - ou todo ele - a empresas privadas. Mesmo assim, a revisão atraiu pouca atenção além dos entusiastas espaciais e políticos, talvez com preocupações mais paroquiais - milhares de empregos na ponta eleitoral da Flórida, por exemplo.

"Acho que muita gente se importa pouco com o espaço", disse Bob Werb, presidente da Space Frontier Foundation, organização que defende a povoação do espaço. "Porém, trata-se de um assunto essencial apenas para uma pequena porcentagem da população. Foi declarado que o apoio ao espaço tem um quilômetro de largura e uma polegada de profundidade, e há muito de verdadeiro nisso".

Um site montado para o painel recebeu apenas 1.500 comentários até o fim de julho. A pergunta, "O que você considera mais instigante a respeito das atividades de voos espaciais tripulados da NASA, e por quê?", gerou apenas 147 respostas.

"O povo americano não tem ideia do que está acontecendo", disse a congressista Gabrielle Giffords, do Arizona, e presidente do subcomitê espacial e aeronáutico. "O americano médio não sabe que o ônibus espacial irá embora no fim de 2010".

Até agora, sair inteiramente do negócio dos voos espaciais não parece ser considerado.

Como candidato presidencial no ano passado, Obama disse apoiar o objetivo de retornar à Lua até 2020. Desde que se tornou presidente, ele tem dito repetidamente que a NASA tem de ser inspiradora, mas sem dizer o que ele acha que seria uma missão inspiradora.

Com a chegada do relatório final do painel, esperado para meados de setembro, Obama terá de tomar algumas decisões essenciais e descrever sua visão para a NASA.

A primeira decisão é uma das completas: aumentar a verba para o programa espacial para pelo menos US$ 130 bilhões ao longo da próxima década, o nível necessário segundo o painel, ou segurar as maiores ambições e manter os astronautas na órbita baixa da Terra pelas próximas duas décadas.

"Essa não é uma escolha que a Casa Branca queria ter", disse Giffords.

Conforme solicitado, o painel oferecerá diversas opções a serem consideradas pela administração, nenhuma recomendação em particular, e todas as opções incluem compromissos - como contornar o pouso na Lua e focar em voos espaciais de longa duração, pelo menos inicialmente. Isso economizaria o custo de se desenvolver um módulo lunar e um habitat, mas Giffords, entre outros, disse que não acha esse plano empolgante, e que seus eleitores tampouco achariam.

Além de decidir para onde ir, a administração precisa decidir como chegar lá. A opção mais simples seria seguir com o programa atual, mas num ritmo mais lento para se adequar ao financiamento disponível, chegando à Lua por volta de 2025.

Ou Obama poderia decidir que agora é o momento para o pontapé inicial do nascente negócio comercial do espaço. A NASA já está contando com empresas privadas para levar cargas à estação espacial apos a desativação dos ônibus, contudo, outra possibilidade pode ser cancelar o Ares I e entregar todo o transporte de e para a órbita baixa da Terra à iniciativa privada.

Entretanto, outro fator que não está claro é se o Congresso aprovaria essa venda no atacado. Giffords disse que ainda apoiava o atual programa da NASA, e estava relutante em jogar todo seu trabalho para o alto. Por enquanto, um motor Ares I está em fase de testes no Utah, e um teste de voo de um protótipo está programado para mais tarde no ano.

"Custará mais dinheiro", ela disse. "Levaria mais tempo se decidíssemos trocar tudo e usar outro veículo".

Fonte: UOL

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