quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Software para caçar ETs será usado em pesquisas sobre vida artificial.

Está achando difícil encontrar vida extraterrestre? Então você pode considerar desenvolver uma só sua.



Em outubro, uma pequena equipe de pesquisadores do Vale do Silício planeja fazer com que um software originalmente desenhado para buscar evidências de vida extraterrestre mude para a tarefa de buscar provas de vida artificial gerada num bloco de computadores de alto desempenho.

A tentativa, batizada de EvoGrid, é a invenção e tópico de dissertação de doutorado de Bruce Damer, cientista computacional do Vale do Silício e desenvolvedir de softwares de simulação para a Nasa numa empresa de Santa Cruz, na Califórnia, chamada Digital Space.



Damer e seu engenheiro-chefe, Peter Newman, estão usando como modelo o projeto SETI(AT)Home, iniciado pelo programa Search for Extraterrestrial Intelligence (Busca por Inteligência Extraterrestre), ou SETI, para utilizar centenas de milhares de computadores conectados à internet em residências e escritórios.


O projeto transformou esses pequenos computadores num enorme supercomputador, ao usar software de reconhecimento de padrões em computadores individuais para filtrar uma gigantesca quantidade de dados, a fim buscar evidências de pequenos sinais de civilizações vindos de outros lugares do cosmos.



O objetivo do EvoGrid é detectar evidências de comportamento de auto-organização em simulações computadorizadas construídas para dar forma ao primeiro surgimento da vida no mundo físico. Um software de reconhecimento de padrões num computador residencial parecia ser uma ferramenta perfeita.

O projeto é um novo esforço no campo da pesquisa de vida artificial baseada em computador, que gerou bastante interesse entre cientistas da computação e biólogos nas décadas de 80 e 90, mas esvaneceu-se assim que os progressos foram rapidamente atingidos na biologia sintética. Na década passada, pesquisadores começaram a modificar material genético para aplicações como remédios e desenvolvimento de combustíveis. Muitos cientistas acreditam que o campo está muito próximo de sintetizar a vida biológica a partir dos materiais básicos.

A pesquisa digital da vida artificial é baseada na obra original de Stanislaw Ulam e John von Neumann, do Laboratório Los Alamos, durante a década de 1940. Von Neumann propôs a ideia de um autômato celular, essencialmente uma estrutura de células, como os quadrados de um tabuleiro de damas. Cada célula poderia representar estados simples, como ligado e desligado, criando uma grade sempre se alterando que poderia ser programada com regras simples num computador.

Mais tarde, pesquisadores da vida artificial criaram programas para usufruir do crescente poder dos computadores para modelar a evolução em universos simples e abstratos. O Tierra, particularmente, desenvolvido em primeiro lugar pelo ecólogo Thomas Ray no início dos anos 90, atraiu muita atenção. O programa, executado em mais de 100 estações de trabalho, demonstrava as mutações de formas digitais e aspectos elementares da evolução. Mais recentemente, o Spore, de Will Wright, popularizou muitos dos aspectos da vida artificial num jogo que hoje é amplamente disponibilizado em computadores pessoais, consoles de videogames e até mesmo telefones celulares.

Mesmo assim, apesar do interesse geral, o campo teve dificuldade em escapar das críticas de que modelar tais "universos de brinquedo" pode ser intelectualmente interessante, mas que, na prática, seria improvável criar formas digitais com as propriedades incrivelmente complexas da vida biológica.

"A cada dez anos, alguém revive esses sistemas", disse George Dysom, historiador científico preocupado que o EvoGrid possa estar reinventando a roda.

O projeto também tem seus defensores. "Minha posição é: vamos dar uma chance a essa hipótese da vida artificial", diz Richard Gordon, radiologista da Universidade de Manitoba, que escreveu profundamente sobre o assunto e é conselheiro do projeto.

Respondendo aos céticos, Damer disse que, ao unir computadores muito mais poderosos do que aqueles disponíveis anteriormente, com potencialmente dezenas ou até mesmo centenas de milhares de observadores baseados em PCs, o EvoGrid poderia tornar possível a detecção de comportamento de surgimento. "O principal desafio", disse ele, "não é a geração de algum tipo de nova interação molecular. Em vez disso, é a análise, e a tentativa de enxergar o que está acontecendo".

Para construir rapidamente o EvoGrid, os pesquisadores estão contando com dois projetos de software de código aberto.

O Boinc é um sistema financiado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA, e usa a internet para permitir que cientistas usufruam de ciclos livres de computação disponíveis em computadores conectados em rede. Na semana passada, por exemplo, o sistema era composto por mais de 500 mil computadores, que geravam uma média de quase 2,45 petaflops de energia de computação. Para se ter uma ideia, em junho deste ano, o supercomputador mais poderoso do mundo, construído pela IBM no Laboratório Nacional de Los Alamos, produziu 1,1 petaflops.

Para simular a evolução digital, o EvoGrid usará um segundo programa, o Gromacs, desenvolvido da Universidade de Groningen, na Holanda, para moldar as interações moleculares. Os pesquisadores do EvoGrid esperam criar um modelo de computador que replique o oceano da antiguidade e usá-lo como uma "sopa primordial" virtual, para desenvolver rapidamente formas digitais.

Simulações de softwares que podem modelar a evolução poderiam ser usadas por projetistas humanos, argumentou Damer. "Hoje em dia não podemos construir carros, aviões ou até mesmo brinquedos sem modelos e simulações por computador", disse ele. "Então, por que não a bioquímica?"



Fonte: UOL

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