domingo, 13 de dezembro de 2009

Estamos sós? REVISTA NATIONAL GEOGRAPHIC 12/2009.



Foram necessários milhares de anos para que nós, seres humanos, explorássemos nosso próprio planeta e séculos para que aprendêssemos algo a respeito dos planetas vizinhos, mas hoje novos mundos estão sendo descobertos toda semana. Até agora os astrônomos já identificaram mais de 370 "exoplanetas", ou seja, corpos celestes girando em torno de outras estrelas além do Sol. Alguns são tão estranhos que confirmam um famoso comentário do biólogo J.B.S. Haldane, segundo o qual "o universo não é só mais bizarro do que imaginamos mas também mais bizarro do que conseguimos imaginar".

A 260 anos-luz da Terra, há, por exemplo, uma espécie de "Saturno quente", que gira em torno de sua estrela com tal velocidade que um ano ali dura menos de três dias. Em volta de outra estrela, a 150 anos-luz, descobriu-se um "Júpiter quente" cuja atmosfera superior está sendo arrancada com tanta força que o planeta exibe uma cauda como se fosse um cometa.

Em meio a esses exemplares exóticos, os cientistas estão empenhados em descobrir indícios de planetas semelhantes à Terra, que giram em torno de suas estrelas a uma distância conveniente - com uma temperatura nem muito alta nem muito baixa - para manter a vida tal como a conhecemos. Identificar um planeta tão pequeno e pálido como o nosso em meio ao brilho de sua estrela é como tentar distinguir um vagalume em uma explosão de fogos e detectar sua influência gravitacional sobre a estrela é como ouvir um grilo durante um tornado. No entanto, aperfeiçoando sem cessar as tecnologias já disponíveis, os astrônomos estão cada vez mais próximos do dia em que vão topar com uma outra Terra.

Apenas 11 exoplanetas, todos eles de grande porte, brilhantes e distantes de suas estrelas, foram até hoje fotografados. A maioria dos outros foi detectada graças ao uso de uma técnica baseada no efeito Doppler, que analisa o espectro da luz emitida pela estrela a fim de detectar indícios de que ela está sendo deslocada pela força gravitacional de seus planetas. Os astrônomos hoje podem dizer quando uma estrela altera sua posição normal em apenas 1 metro por segundo - a velocidade de um ser humano caminhando. Isso é suficiente para identificar a presença de um planeta gigante em órbita distante ou de um planeta pequeno próximo da estrela, mas não algo parecido com a Terra, em órbita a 150 milhões de quilômetros do Sol. A Terra altera a posição do Sol em 10 centímetros por segundo, ou seja, a velocidade de um bebê engatinhando. E uma diferença tão ínfima ainda não pode ser distinguida na luz emitida por estrelas distantes.

Outra técnica se baseia na verificação de ligeiras variações periódicas no brilho da estrela, que devem ocorrer sempre que um planeta do sistema passa diante dela e bloqueia uma fração de sua luminosidade. No máximo, um décimo de todos os sistemas planetários estão orientados de tal modo que esses minieclipses, os "trânsitos", sejam visíveis da Terra. Isso significa que os pesquisadores precisam monitorar muitas estrelas a fim de captar apenas alguns trânsitos. O satélite francês Corot descobriu assim sete exoplanetas - um deles é apenas 70% maior que o nosso.

O satélite americano Kepler é o sucessor mais ambicioso do Corot. Lançado do cabo Canaveral em março, o Kepler é basicamente uma grande câmera digital com uma abertura de 95 centímetros e um detector de 95 megapixels. Ele faz fotos a cada 30 minutos, captando a luz de mais de 100 mil estrelas em uma única região do céu, entre as estrelas de Deneb e Vega. Computadores monitoram o brilho desses milhares de estrelas ao longo do tempo, alertando os pesquisadores quando ocorre ligeiro obscurecimento que poderia indicar o trânsito de algum planeta.

Os cientistas que trabalham com o Kepler só anunciam a presença de algum planeta depois de o trânsito ter sido registrado pelo menos três vezes. Se conseguirem descobrir um planeta rochoso com o tamanho aproximado ao da Terra e numa órbita habitável - nem tão próxima da estrela, a ponto de toda sua água ser vaporizada, nem tão distante, a ponto de ela congelar -, eles terão encontrado o que, de acordo com os biólogos, poderia ser um refúgio propício à vida.


As candidatas mais promissoras talvez sejam as estrelas anãs, menores que o Sol. Há uma profusão dessas estrelas, e suas vidas são longas e estáveis, emitindo um fluxo constante de radiação para qualquer planeta dotado de vida que esteja orbitando nas zonas habitáveis do sistema. Quanto menos brilhante é a estrela, mais próximas ficam as zonas habitáveis, de modo que a observação dos trânsitos pode dar resultados em bem menos tempo. Um planeta mais próximo também exerce uma atração gravitacional mais forte sobre a estrela, o que torna mais fácil confirmar sua presença com a técnica Doppler. Na verdade, o planeta mais promissor já encontrado - a "super-Terra" Gliese 581 d, com massa sete vezes maior que a do nosso planeta - orbita na zona habitável de uma estrela anã vermelha que tem apenas um terço da massa de nosso Sol.

Caso planetas similares à Terra sejam achados no interior das zonas habitáveis de outras estrelas, um telescópio espacial específico, projetado para detectar sinais de vida, poderia no futuro captar o espectro da luz emitida por tais planetas e examiná-lo em busca de possíveis "bioassinaturas", como a presença na atmosfera de metano, ozônio e oxigênio. Não seria uma tarefa fácil.

Enquanto se debatem com o intimidante desafio de efetuar análises químicas de planetas que nem sequer conseguem ver, os cientistas empenhados na busca de vida extraterrestre não podem descartar a possibilidade de que ela seja muito diferente daquela que conhecemos. A evolução biológica é tão intrinsecamente imprevisível que até mesmo se a vida surgisse em um planeta idêntico ao nosso na mesma época em que apareceu aqui, a vida nesse planeta certamente seria hoje muito diversa da terrestre.

Como disse certa vez o biólogo Jacques Monod, a vida evolui não apenas em função da necessidade - do funcionamento universal das leis naturais - como também do acaso, da intervenção imprevisível de incontáveis acidentes. O acaso manifestou-se muitas vezes na história de nosso planeta, e de forma dramática no caso das várias extinções em massa, criando assim espaço para o desenvolvimento de novas formas de vida. Alguns desses acidentes parecem ter sido causados pela colisão de cometas e asteróides com a Terra - o mais recente desses acidentes foi o impacto, há 65 milhões de anos, que exterminou os dinossauros. Por esse motivo, os cientistas não buscam apenas por exoplanetas parecidos com a Terra atual mas por aqueles que se assemelhem a versões passadas. "A Terra moderna pode ser o pior modelo para usarmos na busca de vida em outras partes", diz Caleb Scharf, diretor do Centro de Astrobiologia da Universidade Colúmbia.

Não foi nada fácil aos primeiros exploradores fazer uma ideia da profundeza dos oceanos, mapear o lado oculto da Lua ou distinguir indícios da presença de oceanos sob as superfícies congeladas das luas de Júpiter - e também não será fácil encontrar vida nos planetas de outras estrelas. Mas agora temos bons motivos para crer que devem haver bilhões de tais planetas, e eles guardam a promessa de expansão não só do horizonte do conhecimento humano mas também da imaginação humana.

Durante milhares de anos, nós conhecíamos tão pouco a respeito do universo que priorizamos nossas fantasias, em detrimento da realidade. (Como escreveu o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, o misticismo dos visionários religiosos do passado surgiu de uma "intolerável disparidade entre a imensidão de seus desejos e a estreiteza da realidade".) Agora, com os avanços da ciência, tornou-se mais que evidente que a assombrosa criatividade da natureza supera em muito a nossa. E já se descortinam inumeráveis mundos novos, cada qual com sua história.




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