segunda-feira, 21 de junho de 2010

O pescador que fisgou um meteorito.

Em 1999, Altamir Maduell Gonçalves viu um objeto cair do espaço enquanto pescava em Capão do Leão. O mistério foi desfeito ano passado: trata-se de um meteorito, de 319 gramas. Pescador que se preze abre a tarrafa da imaginação ao narrar suas façanhas. É o lambari que, de tão gigante, não coube dentro da canoa. Ou a sereia de voz tentadora, brilhante nas escamas de esmeralda, sensual na metade mulher, que saltou das águas numa noite de lua cheia. Pois agora se prepare para conhecer uma história para lá de fantasiosa, mas absolutamente real, pode confiar: a do homem que fisgou um meteorito.

Antes de mais nada, deve-se adiantar que Altamir Maduell Gonçalves, 61 anos, cinco filhos criados, detesta aquelas mentirinhas inofensivas para enfeitar causos de pescador. Sempre primou pela seriedade, como motorista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ou lançando espinhéis no Arroio Padre Doutor, próximo a Capão do Leão, onde mora. Se ele diz que capturou uma miraguaia de 18 quilos – e pesada sem as vísceras, pronta para ir ao forno –, pode acreditar. É a verdade sem arredondamentos.

Que não se duvide, portanto, do seu Altamir. Apelidado de Mirim – não em função do nome da lagoa da Região Sul, mas por medir 1m52cm de altura –, ele apanhou o meteorito na noite de 10 de abril de 1999. A pescaria estava chocha, nem as vorazes traíras beliscavam o anzol, quando sentiu uma lufada de vento, seguida de um “fssssss” rasgando os ares.

– No início, achei que alguém havia atirado uma bombinha de São João para me assustar – lembra.

Precavido, iluminou o local onde caiu o objeto voador não identificado (ovni), depois o apalpou com a ponta da faca. Não havia fumaça, as gramíneas na beira da água estavam frias. Então, pôs a pedra na sacola vazia de peixes, o coração aos pulos, e tratou de recolher os caniços.

– É coisa que veio do céu, pode ser um tesouro – repetia para si mesmo, enquanto voltava para casa na escuridão.

Na manhã seguinte, Altamir retornou ao Arroio Padre Doutor, mas não para lançar linhas na água. Se uma pedra caíra do além, outras poderiam ter vindo junto. E o novo pesqueiro lhe rendeu mais dois meteoritos, menores que o primeiro, o qual pesou 319 gramas. Todos exibindo um brilho negro metálico (como se tivessem sido queimados), mais algumas ranhuras e uns poucos furinhos.


VIERAM DO ESPAÇO, CONSTATA GEÓLOGO

Nos últimos 10 anos, Altamir tentou saber a origem das três pepitas, guardadas em lugar secreto, como se diamantes fossem. Obteve uma resposta no ano passado. O especialista em geologia, mineração e gemas, Ricardo Decker da Cruz, de Pelotas, identificou características meteoríticas nas pedras. Apesar do exame superficial, o geólogo constatou que elas não pertencem às rochas da região, o que comprova o relato do pescador.

Mais esclarecimentos são dados pelo físico Claudio Bevilacqua, do Observatório Astronômico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Chuvas de meteoritos são frequentes. O incomum é achar um fragmento de porte – como o encontrado por Altamir. Bevilacqua destaca que, a cada dia, entre 40 e cem toneladas de partículas espaciais entram na atmosfera terrestre. Parte delas cai na superfície, a maioria sem ser percebida.

Nos Estados Unidos, meteoritos são comercializados como relíquias. No Brasil, informa o físico Bevilacqua, têm valor apenas científico. Pesquisadores empenham-se em descobrir se resultam da colisão de asteroides, ou se foram ejetados da Lua, de Marte, remotamente de Vênus.

Hoje aposentado pela UFPel, Altamir segue lançando iscas no Arroio Padre Doutor. Gosta de acampar com o irmão, Dario, 66 anos, o bote de madeira a servir de alojamento. As pescarias já não são fartas como antes, os jundiás de 2,5 quilos encolheram – no tamanho e na quantidade.

Quando a situação está mais para ensinar minhoca a nadar, ele trava o molinete e contempla o céu límpido. Nem sinal dos viajantes galácticos que caíram rente aos seus pés, 11 anos atrás. Mas já viu estrelas cadentes riscarem o firmamento, é a palavra de Altamir, o seu Mirim, um pescador que não exagera. 

Fonte: ZERO HORA

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