terça-feira, 18 de junho de 2013

Telescópio financiado pelo público pode ampliar acesso à exploração espacial.


Um novo caminho para a exploração espacial foi lançado em 29 de maio. A Planetary Resources, companhia americana que pretende minerar asteroides, criou campanha de financiamento público para desenvolver um telescópio espacial de uso compartilhado. O valor almejado, de US$ 1 milhão, deve ser atingido em breve.

O diferencial não reside na tecnologia do Arkyd 100, como foi batizado o telescópio, mas em seu sistema de financiamento público, via Kickstarter, até então inédito para essa finalidade. Conforme a porta-voz da empresa, Stacey Tearne, o projeto quebra barreiras de acesso ao espaço e coloca a tecnologia de exploração avançada nas mãos de cientistas e estudantes.

Uma contribuição de US$ 25, além de colaborar para a viabilização do projeto, garante ao doador uma foto sua no espaço. A imagem escolhida será exibida em tela LCD no próprio Arkyd, cujo conjunto de câmeras fará o registro fotográfico com o planeta Terra ao fundo. Em seguida, o arquivo é transmitido ao financiador.

Quanto maior a doação, maiores são os benefícios. Quem colabora com US$ 10 mil, por exemplo, tem direito a: alocação de tempo de uso para instituição de ensino a sua escolha, foto de si mesmo em alta definição no espaço, ingressos para os eventos de conclusão do telescópio e de seu lançamento, assinatura na aeronave, acesso ao telescópio para observações detalhadas e um ano de associação na Sociedade Planetária, nos Estados Unidos.

Até 18 de junho, o total arrecadado já atingia quase US$ 920 mil, comprovando o sucesso da iniciativa. Stacey explica que qualquer recurso captado além da meta vai ser direcionado para ampliação do acesso ao Arkyd para salas de aula, museus e centros de ciência, além do uso adicional para os apoiadores individuais via Kickstarter.

Apoio
O projeto conquistou adeptos importantes, como os atores Seth Greeen, Brent Spiner e Rob Picardo, o cientista e apresentador Bill Nye (conhecido como “the Science Guy”), o cineasta e futurista Jason Silva, o executivo Richard Branson, da companhia Virgin, e a astrofísica Sara Seager, que define a iniciativa como “fantástica”. “Arkyd pode preparar o terreno para uma espécie de revolução no acesso barato ao espaço”, diz ela.

Segundo Sara, o projeto abre um espaço democrático, bem distante dos modelos adotados pelas agências espaciais. Ela também destaca que o Arkyd 100 é muito mais barato do que qualquer outro telescópio espacial até hoje. “Uma versão mais sofisticada de seu telescópio pode ser útil para minha própria pesquisa científica”, completa a professora de Ciências Planetárias no renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology).

Quem também revela entusiasmo com o projeto é Jason Silva. Para ele, o Arkyd é um instrumento maravilhoso, que amplia o nervo óptico da humanidade. “Representa o melhor de nós: o nosso desejo de exploração, de testar os nossos limites e de superá-los”, afirma.

O futurista acrescenta ainda que apoia o projeto por enxergar nele referenciais do seu trabalho, que se concentra em celebrar criatividade e tecnologia. “Parte do que eu faço é promover grandes ideias e torná-las acessíveis a um público mais vasto. Eu acho que o Arkyd era uma aliança natural por compartilharmos a mesma mensagem”, diz.

Acesso
Naelton Mendes de Araújo, astrônomo da Fundação Planetário do Rio de Janeiro, entende que a ideia é, ao mesmo tempo, revolucionária e inevitável. Segundo ele, o acesso ao espaço já deixou de ser um privilégio governamental há décadas, lembrando de satélites de telecomunicação postos em órbita e operados por empresas privadas desde os anos 1970. “Um telescópio espacial para buscar asteroides mineráveis é uma novidade interessante”, avalia.

Para Araújo, o projeto Arkyd é consequência natural da expansão dos negócios humanos para ambientes novos abertos pela exploração espacial. “As empresas vão aonde há lucros, e o espaço está cheio de recursos preciosos”, diz.

O astrônomo também considera que a ideia de pequenas contribuições financeiras financiarem um veículo espacial é muito estimulante, mesmo que seja um satélite tão pequeno. Sobre a tecnologia empregada, entende que não há nada avançado, mas destaca a síntese de anos de pesquisa espacial compactada em um pequeno aparelho.

“A miniaturização, a simplicidade e a versatilidade do Arkyd são a grande vantagem competitiva. São pequenos, baratos e podem ser feitos rapidamente, o que não pode ocorrer com satélites comuns, que são praticamente feitos sob encomenda”, afirma.

Araújo comenta que, além do modelo orbital 100 (em órbita terrestre), existem planos para naves interceptoras e que ficariam ao redor dos asteroides (modelos 200 e 300). “Isso vai exigir propulsão e computação poderosos. Esses modelos mais avançados têm de ser maiores e mais complexos”, adianta.

De acordo com Araújo, esse pode se tornar o princípio de um novo modelo de financiamento para projetos de ciência espacial. “Até projetos mais ousados podem ser empreendidos no futuro, à medida que a tecnologia barateia os veículos lançadores, que são a parte mais sensível da indústria espacial”, conclui.

Fonte: Portal Terra

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